domingo, 9 de agosto de 2009

Falta de Memória

Você anda esquecido ultimamente? Viu um conhecido e não soube lembrar o seu nome? Esqueceu de um compromisso e ficou por causa disto péssimo? Bem você pode começar a imaginar um monte de coisas quando situações como estas acontecem com maior freqüência. Será que estou doente? É o mal de Alzheimer? Vamos então separar as coisas. Acontece que nosso cérebro precisa se esquecer da maioria das coisas que vivemos. Temos que esquecer...

..., aliás, passamos a vida a deixar memórias para trás. Saiba que mais esquecemos do que lembramos. Pois do contrário seria absolutamente impossível vivermos. Imagine se ao relembrar algum fato passado, você tivesse que reviver todos os inúmeros pormenores que cercaram esta experiência. Por exemplo, se alguém lhe pedir para que faça um resumo de sua vida, talvez consiga em poucas horas dizer muita coisa, mas veja, se você tem 30 anos, já viveu 10.950 dias ou 262.800 horas ou 15.768.000 minutos, desconte metade pensando nas horas que dormiu, tire mais uns pouco pelos seus primeiros anos de vida, ainda irá sobrar muito tempo e duvido que conseguirá lembrar de menos de 1% por cento de exatamente todos os fatos que passaram a sua frente. Em um conto belíssimo Borges relata a vida de um personagem que se lembrava de tudo. Quando alguém lhe perguntava alguma coisa passava a descrever o acontecido, com todos os detalhes, no exato tempo em que o tinha vivido e isto fez de sua vida um inferno. Na verdade somos o que lembramos, mas também o que esquecemos.

Por que é assim? Acontece que nosso cérebro memoriza ou retém algumas coisas. Temos basicamente três tipos de memória, como explicam os neuropsicólogos, a memória de trabalho, e as declarativas dividas em memória episódica e a memória semântica . A primeira, chamada de memória de trabalho é aquela que usamos a todo o momento, que no fim das contas nos permite viver, gerencia a realidade. Assim enquanto estou a falar com alguém vou me dando conta do que acabei de dizer para poder continuar o que mais tenho de lhe falar, vou lembrando de alguns detalhes daquele momento para ter adequação o que mais vir depois. Estou percebendo como você reage ao que falo, sua atitude, sua roupa, seus traços etc. Disto, que estamos vivemos no momento, algumas coisas irão ficar por um tempo registradas e depois esquecidas. Se lhe perguntarem o que almoçou ontem irá muito provavelmente lembrar, mas e se lhe perguntar o que você almoçou há um mês? Aí vêm as memórias episódicas, que diz respeito a nossa história, aos fatos que tiveram significado em sua existência. Se este almoço, há um mês atrás, foi algo importante, um momento especial, como, por exemplo, a primeira vez que você esteve com sua namorada, é bem provável que não esquecerá. Ou aconteceu que o restaurante pegou fogo! Há uma relevância emocional forte na esteira de uma lembrança episódica. E interessantemente, quando esta relevância é muitíssimo intensa e desfavorável, iremos “esquecer” esta memória, ela irá ficar estrategicamente guardada, sem ser lembrada para que não nos atormente. E, a memória dita semântica é aquela que usamos e não faz parte particularmente, da nossa história, pois é comum a muitos, como o nosso conhecimento da língua portuguesa, de coisas que sabemos porque aprendemos. Você sabe qual é a capital da Espanha? É uma memória semântica. Agora se eu lhe perguntar se conhece Madrid e me disser que ela é assim assado, pois já esteve lá há dois anos atrás, isto é memória episódica.

Bem este assunto é extensíssimo e tenho que terminar o texto, pois já está terminando a página. Mas gostaria de finalizar dizendo-lhes que a maior parte das pessoas que se queixam de falta de memória, não se deve a que alguma doença temida esteja lhe assolando. Há uma correlação intensa com a nossa concentração, com a nossa capacidade de abstrair-nos do resto, para que possamos fazer algo inteiramente. Pegue um livro de cabeça cheia e tente ler. Por certo muito irá se perder. Faça muitas coisas ao mesmo tempo e com muita ansiedade. É bem possível que se esquecerá da maioria. Uma pessoa preocupada, triste e angustiada não se concentra. E claro, não se lembra. No entanto, lembre-se: esquecer é muitas vezes saudável.

Texto de autoria do Dr. Paulo Mattosinho Filho

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